23 de Maio de 1941

Neste dia a Batalha de Creta entrava no seu quarto dia.

Em terra os combates prosseguiam de forma cada vez mais brutal e sangrenta e neste dia os alemães asseguravam o controle de todo o lado oeste da ilha de Creta.

Os britânicos, obrigados a lutar contra tropas alemãs frescas recém chegadas, recuavam e concentravam os seus esforços na defesa do lado leste da ilha.

No mar as perdas da Royal Navy acumulavam-se cada vez mais. No dia anterior mais de 1.000 marinheiros britânicos perdiam a vida (evento destacado ontem aqui na página) e neste dia o HMS Kashmir e o HMS Kelly eram atacados por 24 bombardeiros Ju 87 Stuka.

O HMS Kashmir foi atingido e afundou-se em 3 minutos e o HMS Kelly também foi atingido e virou-se, afundando-se pouco depois.

As perdas da Royal Navy devido aos ataques da Luftwaffe eram tantas que neste dia o Almirante Cunningham anunciava a sua decisão de interromper todas as operações navais à luz do dia.

O porto de Suda Bay, bombardeado pela Luftwaffe.
O porto de Suda Bay, bombardeado pela Luftwaffe.
Aviões de transporte Ju 57 danificados na ilha de Creta.
Aviões de transporte Ju 57 danificados na ilha de Creta.
Soldados alemães fazendo um pequeno intervalo durante os combates na ilha de Creta.
Soldados alemães fazendo um pequeno intervalo durante os combates na ilha de Creta.

15 de Maio de 1940

Neste dia o Comando de Bombardeiros da RAF, motivado pelo bombardeio alemão no dia anterior à cidade holandesa de Rotterdam (evento destacado ontem aqui na página), que destruiu o seu centro histórico e matou cerca de 1.000 civis, alterava a sua política de raids aéreos e passava a incluir também cidades alemãs na sua lista de alvos.
Cidade de Rotterdam destruída após o bombardeio da Luftwaffe do dia 14 de maio de 1940.
Cidade de Rotterdam destruída após o bombardeio da Luftwaffe do dia 14 de maio de 1940.

E a arma do dia é…

O bombardeiro de mergulho alemão Junkers Ju 87 Stuka (Sturzkampfflugzeug, bombardeiro de mergulho, em alemão).

(Peço desculpas pelo texto um pouco extenso, mas acho que vocês irão gostar!)

Um verdadeiro ícone da aviação militar na Segunda Guerra Mundial.

O projeto do bombardeiro de mergulho remonta ao final dos anos 20 através das experiências e protótipos do projetista alemão Hermann Pohlmann, mas a primeira versão do Ju 87 voaria apenas em 1935.

De acordo com Pohlmann, um bombardeiro de mergulho deveria ser simples e robusto, uma filosofia que conduziu à uma das características visuais mais marcantes do aparelho: o seu trem de pouso fixo.

Outro aspecto visual muito característico do Stuka era a sua asa de “gaivota invertida”, desenhada especialmente para possibilitar uma melhor visibilidade do solo por parte do piloto.

Vinha armado à frente (nas asas) com duas metralhadoras de 7.92 mm e atrás havia uma outra de 7.92 manejada por um artilheiro para fins defensivos.

Tinha também uma outra “arma” no seu arsenal: os “Trompetes de Jericho”!

Eram poderosas sirenes que produziam um som aterrador durante as manobras de mergulho. Para um soldado no solo, ouvir a sua sirene era sinal de perigo ou morte iminente. Geralmente pelotões inteiros debandavam desordenadamente quando ouviam essas terríveis sirenes. Uma verdadeira arma psicológica.

O procedimento de mergulho e ataque ao solo era simples:

O piloto localizava o seu alvo através de uma mira no chão do cockpit. Uma vez identificado o alvo, o piloto diminuía a potência do motor, fechava os flaps de refrigeração e o freio de mergulho ativava-se automaticamente. Em seguida o piloto invertia o avião 180º e o aparelho iniciava naturalmente o movimento de mergulho em direção ao solo.

O Stuka mergulhava num ângulo entre os 60º e os 90º à uma velocidade constante entre os 500-600 km/h graças ao seu sistema de freio de mergulho, o que permitia aumentar muito a precisão da sua mira.

Ao atingir uma determinada altitude, tipicamente aos 450 metros, uma luz no painel indicava ao piloto o momento certo para soltar a bomba. Assim que a bomba era solta o piloto pressionava um botão na coluna de comando e o aparelho iniciava a recuperação automática do mergulho, o que era muito útil pois algumas vezes os pilotos desmaiavam devido à força G exercida sobre eles na manobra de recuperação.

Quando o nariz subia acima do horizonte o freio de mergulho retraía-se, a potência do motor aumentava e a hélice era ajustada para uma rápida subida do aparelho.

Tudo isto automaticamente! Só a partir deste momento é que o piloto ganhava novamente controle sobre o avião.

Graças ao seu sistema automático de mergulho, no início da guerra era o único bombardeiro capaz de mergulhar num ângulo de 90º.

O Stuka foi utilizado em todas as frentes onde a Alemanha combateu. A sua primeira aparição em combate deu-se na Espanha, onde combateu ao lado das forças fascistas de Franco em 1936.

Na Segunda Guerra Mundial desempenhou um bom papel na Polónia e na Noruega, mas foi na Batalha da França em Maio de 1940 onde ganhou realmente notoriedade, tendo sido muito utilizado como suporte aéreo pelas forças alemãs terrestres.

Os batalhões da Wehrmacht tinham equipes de rádio que podiam se comunicar diretamente com o controle aéreo da região e, em caso de necessidade, podiam pedir um bombardeio aéreo de precisão, um pedido que tipicamente era atendido em menos de 30 minutos.

Os Stukas foram cruciais para o sucesso da Blitzkrieg (guerra relâmpago). Tratava-se de um conceito até então inédito no mundo: integração total e irrestrita entre a força aérea e o exército. Por exemplo, na França, um pedido de suporte aéreo por parte da infantaria tinha que obrigatoriamente passar por uma longa cadeia de comando, o que geralmente atrasava a chegada da ajuda em muitas horas (no caso dos alemães, a ajuda aérea podia chegar em até 10 minutos).

Apesar da sua incrível eficácia como bombardeiro de megulho, tinha uma grave limitação: era um alvo fácil para os caças modernos aliados. Era comum esquadrões com 10, 15 ou mesmo 20 aparelhos serem dizimados por caças aliados, por isso era obrigatório uma pesada escolta de caças para que pudesse desempenhar corretamente o seu papel.

Até 1944 foram construídos cerca de 6.500 aparelhos.

Procedimento de mergulho de um Junkers Ju 87 Stuka. A manobra de recuperação do vôo picado era completamente automático.
Procedimento de mergulho de um Junkers Ju 87 Stuka.
A manobra de recuperação do vôo picado era completamente automático.
Algumas versões do Junkers Ju 87 Stuka desenvolvidas durante a guerra.
Algumas versões do Junkers Ju 87 Stuka desenvolvidas durante a guerra.
Junkers Ju 87 Stuka.
Junkers Ju 87 Stuka.
Junkers Ju 87 Stuka.
Junkers Ju 87 Stuka.
Junkers Ju 87 Stuka.
Junkers Ju 87 Stuka.

7 de Maio de 1941

Neste dia terminava a Blitz de Liverpool.

Durante 7 noites consecutivas a Luftwaffe bombardeou a cidade de Liverpool, destruíndo o seu porto e grandes áreas da cidade.

No total os alemães empregaram 681 bombardeiros que, entre os dias 1 e 7 de Maio de 1941, lançaram sobre a cidade 2.315 bombas explosivas e 119 bombas incendiárias.

O raid destruiu 75% do porto de Liverpool e matou cerca de 3.000 pessoas.

No dia 3 de Maio, após mais uma noite de ataques aéreos, o navio SS Malakand, carregado com 1.000 toneladas de bombas, foi atingido pelas chamas enquanto estava atracado no porto e acabou por explodir. A explosão foi tão violenta que peças do navio pesando várias toneladas foram encontradas a quase 2 km do porto.

Foto panorâmica da cidade de Liverpool após a Blitz de Maio de 1941.
Foto panorâmica da cidade de Liverpool após a Blitz de Maio de 1941.
Foto panorâmica da cidade de Liverpool após a Blitz de Maio de 1941.
Foto panorâmica da cidade de Liverpool após a Blitz de Maio de 1941.

E a arma do dia é…

O caça-bombardeiro alemão Horten Ho 229, a primeira asa voadora impulsionada por motores a jato da história, também considerado por alguns especialistas como o primeiro caça furtivo (stealth fighter).

Foi desenvolvido a partir de 1943 em resposta ao programa “3×1.000” da Luftwaffe, cujos requisitos consistia em construir um avião capaz de ter uma autonomia de 1.000 km transportando 1.000 kg de bombas à uma velocidade de cruzeiro de 1.000 km/h.

O programa atraiu a atenção dos irmãos Horten, pilotos, entusiastas da aviação e famosos projetistas de aviões. O seu projeto foi apresentado a Hermann Göring no verão de 1943 que o aprovou imediatamente. A única alteração ao projeto foi o acréscimo de duas metralhadoras de 30 mm.

O desenho dos irmãos Horten era inovador em muitos aspectos. Para economizar combustível optaram pelo desenho de uma asa voadora, o que reduziria o arrasto aerodinâmico e permitiria à aeronave alcançar uma elevada velocidade de cruzeiro e uma autonomia de quase 1.000 km.

O primeiro protótipo, uma versão planadora sem motores, voou no dia 1 de Março de 1944. Após esse primeiro teste o projeto passou para as mãos da Gothaer Waggonfabrik, que adicionou um assento ejetor e realizou algumas alterações aerodinâmicas.

No dia 12 de Março de 1945 o Ho 229 foi incluído no Jäger-Notprogramm (Programa Emergencial para Jatos), iniciando-se imediatamente a construção do último protótipo (V3) antes da sua entrada em produção.

O Ho 229 V3 não chegou a ser terminado, tendo sido capturado pelos norte-americanos e enviado para os EUA, onde a sua construção foi concluída. Nos meses seguintes a USAAF realizou exaustivos testes com o V3, comprovando a sua eficácia como caça-bombardeiro de longo alcance.

Testes recentes indicam que o Ho 229, se tivesse sido utilizado na Segunda Guerra Mundial, poderia ter sido considerado o primeiro caça furtivo (stealth) da história, pois o seu desenho e os materiais utilizados na sua construção reduziam em até 37% a sua detecção pelos radares britânicos utilizados na época.

Irmãos Horten, criadores do Ho 229.
Irmãos Horten, criadores do Ho 229.
Ho 229 V3 numa base norte-americana após a guerra.
Ho 229 V3 numa base norte-americana após a guerra.
Modelo protótipo de asa voadora que levaria à construção do Ho 229.
Modelo protótipo de asa voadora que levaria à construção do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.
Desenho esquemático do Ho 229.

B-2 Spirit, caça furtivo norte-americano introduzido em 1997. Reparem como o seu desenho é semelhante ao do Ho 229.
B-2 Spirit, caça furtivo norte-americano introduzido em 1997. Reparem como o seu desenho é semelhante ao do Ho 229.